Finisterrae
Filme que dialoga fortemente com Jodorovsky (em ritmo, nunca em potência), Finisterrae deixa bem claro desde primeiros minutos que não tenciona facilitar as coisas para o espectador. Se articulando a partir de uma premissa interessante, o filme de Sergio Caballero traz ao mundo dois fantasmas que, na recém chegada viagem a terra dos mortos, precisam encontrar o caminho até Finisterrae. No percurso, embebidos pela inocência de turistas, eles se deparam a todo instante com personagens bizarros, entre homens e animais, sons e imagens que são para eles estranhos. Do surrealismo o filme se inscreve dos pés a cabeça, até que não haja mais para onde recorrer.
As imagens que Caballero cria não suportam o peso do drama que almeja engendrar, algo se perde no caminho, algo como a força dos personagens, que giram em torno de situações não mais do que filmadas para criar um efeito dos mais comuns. E se as imagens não convencem, todavia o humor que as acompanha trata de equalizar a experiência, para além de qualquer tentativa de efeito. Filme de leitura imagética, Finisterrae necessita delas para transcender em potência, elevar-se como discurso imagem.
Os fantasmas que trilham pelos campos das mais monótonas paisagens são assim: vítimas de outro mundo, onde estão entorpecendo. No fim, Caballero só consegue tirar o mínimo possível de seu filme, porque não há ali nada que justifique tanta demarcação de estilo (“vejam, serei um autor”), tamanha atmosfera esteta. Um filme em que o que mais importa é o lance genial – que, diga-se, nunca chega. Trata-se, como o espectador tão logo perceberá, de um filme incorruptível, sem desvios e que parece apostar todas as suas fichas no movimento surrealista, na fantasia que brota do realismo mágico mais simplista – do ponto de vista negativo. Só existe uma verdade para Caballero, mas tais discursos prontos são fáceis demais.
(Finisterrae, Espanha/Rússia, 2010) De Sergio Caballero. Com Pau Nubiola, Santi Serra, Pavel Lukiyanov.